quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O DIA QUE A IGREJA FALIU...

Outro dia minha tia me disse bem assim: “Andréia, você precisa voltar pra igreja!” Confesso que demorei um pouco para responder. Refleti um pouco a respeito.
(...)
“Voltar pra igreja...”
( ...)
“Será que estou distante de Deus só porque não possuo cargos de igreja?” “Será que não estar na igreja é estar distante de Deus?”
(...)
Pensei um pouco a respeito. Achei difícil responder tudo isso em minha mente. Apenas respondi para minha tia um calmo e pensativo: “é...”
O que constantemente passa pela minha cabeça não é porque não estou ativa na igreja, mas porque quem está lá nunca tem mudança de vida. Culpa do pastor? Não sei. Acho complicado botar a culpa só no pastor. Acho que todo mundo tem culpa nessa jogada. Quem vai não quer mudar. Quem prega, não quer aplicar na própria vida o que diz. Onde está o erro? Em quem está dentro? Em quem está fora? Não sei. Mas a parada está ficando cada vez mais feia.
Só em Piracicaba, se fôssemos fazer um censo de quantas igrejas temos espalhadas, já era pra cidade toda estar “salva”. O fato é que, a cada dia que passa, mais igrejas nascem por aí, mas poucos são salvos de verdade. Quem não conhece Deus acaba não conhecendo. Quem conhece acaba passando por trocentas igrejas e nunca encontra um lugar ideal. Culpa de quem procura? Pode ser. Talvez elas procurem igrejas confortáveis, que falem o que elas querem ouvir. Mas pode ser que elas realmente estejam tentando encontrar Deus no meio disso tudo.
Sabe qual é o real problema mesmo? Não são as placas de igreja. São as pessoas. Ficamos egoístas, incrédulos, impassíveis. Não perdoamos, não queremos mudar, não abraçamos: jogamos pedra. Não querem mais curar, querem causar dor. Não se vive mais o amor de Deus; se vive o amor a si próprio, o “eu”. Se vive prosperidade, dízimos... Não se vive amor ao próximo, não se vive comunhão.
Já fui líder de jovem duas vezes em duas denominações totalmente diferentes. A dificuldade que encontrei foi exatamente a mesma. Quer a real? Não tem jovem na igreja. Jovens estão no mundo. Eles estão nas faculdades, nos bares, nas baladas. Salva raríssimas exceções, temos um ou outro comprometido na igreja. Os poucos jovens que estão na igreja, a liderança local não os enxerga. O restante dos cultos de “jovens” são adolescentes ou pré-adolescentes geração Restart que daqui a alguns anos também não estarão mais na igreja, porque a mesma não os acolhe.
Aliás, quem acolhe quem? Essa é a pergunta que tenho feito dia após dia. Não somos acolhidos, somos esmagados, criticados... somos tudo, exceto acolhidos. Outro dia ouvi algo assim: “Você deixou a liderança e por sua culpa muitos se perderam”. Cara, como eu queria acreditar que sou responsável por alguém. Mas porque ninguém é responsável por mim? Porque ninguém se responsabiliza pelas minhas dores?
Talvez eu seja individualista? Talvez. Não me culpe. Sofro exatamente o que você sofre: não sou acolhida, não fui cuidada por líderes, pastores, amigos... Se tem algo que tenho aprendido é que as pessoas (dentro ou fora da igreja) são mais volúveis que chuva nas estações. Mas por incrível que pareça, tenho encontrado mais sinceridade nas pessoas lá de fora. Não posso dizer o mesmo de quem está na igreja.
Não estou revoltada. Não estou distante de Deus. Só estou cansada e triste. Cansada em ver a igreja se definhar dia após dia. Triste por ver as pessoas aceitarem a igreja falir.
Sabe quando a igreja começou a falir? Quando começamos a criar nossas próprias regras; quando alguém da denominação X discordou de algo e quis criar a sua igreja Y, que por sua vez tinha alguém lá que ficou um tempo e não concordou com algumas coisas e fundou sua igreja W. O ciclo não parou. Está longe de parar. E assim surgiu a igreja do movimento C; outra do movimento R... Mas, qual é o fundamento? Qual é a estrutura?
A igreja faliu no dia que ela perdeu sua estrutura e sua história. A igreja faliu quando a história de sua origem passou a ser uma discórdia lá atrás; uma briga com líderes; ou simplesmente uma briga qualquer.
O problema disso tudo é que estamos falindo junto com esta história toda. A pergunta que fica é: até quando vamos agüentar? Sabe... acho que a questão nem é “agüentar” mas “encontrar” o lugar certo. Não sei quando irei encontrar, mas já sei onde não devo tentar encontrar e onde devo. Só sei que não devo esperar nada de pessoas, mas Dele...Só sei que não devo tentar encontrar o lugar logo ali na esquina, na igreja do fulano que discordou da igreja X, que por sua vez montou a igreja L que deu origem as igrejas P, S, L, T, W...


Andréia Vieira

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